terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Você é nota 0, 5 ou 10?



Saudações, ainda pouquíssimos porém muito estimados leitores!


Trago hoje alguns resultados de uma reflexão que fiz ontem, sozinho, enquanto dirigia rumo à faculdade para mais um dia de coordenação. O caminho da reflexão é tortuoso, como não poderia deixar de ser, mas os resultados foram tão interessantes que resolvi trazê-los para a reflexão.

Por ser uma reflexão, creio que este texto traga mais perguntas do que respostas. Contudo, por vezes creio que certas dúvidas são mais valiosas do que muitas certezas! Vamos lá!

Regras Institucionais de Avaliação

Na instituição de ensino superior em que leciono e coordeno curso, a regra institucional para avaliação dos alunos é a seguinte: o semestre é dividido em dois bimestres. Em cada disciplina do bimestre o aluno deve ser avaliado (ao menos) uma vez e por bimestre será atribuída ao aluno uma nota de zero (0,0) a dez (10,0) por disciplina. A nota do semestre naquela disciplina será a média simples das notas bimestrais, sendo que uma média maior ou igual a seis (6,0) corresponde à aprovação na disciplina, mediante comprovada presença em no mínimo 75% das aulas. Resumex: temos P1 e P2, ambas com o mesmo peso, média 6,0 e 75% de presença obrigatória.

 As falhas do processo de aprovação por nota

Tendo estas regras em mente, penso como professor que as provas P1 e P2 têm objetivos diferentes. A P1 deveria ser capaz de avaliar o aluno na metade do processo de ensino-aprendizado do semestre e dizer a ele se ele conseguiu obter os conhecimentos ou competências necessárias para a continuação da disciplina. Mais do que isso: caso ele não tenha obtido os conhecimentos, a avaliação deveria apontar quais são os conhecimentos que faltam, para que ele consiga se recuperar.

Já a P2 deveria ser capaz de dizer se o aluno foi capaz de absorver os conteúdos mínimos que se espera naquela disciplina para que a instituição possa atestar que o aluno possui as habilidades e competências que se espera de uma pessoa com formação na disciplina em questão. Adicionalmente, esta avaliação deveria dizer com clareza quais os tópicos em que o aluno não apresenta domínio.

Tudo muito bonito, ideal e perfeito! Contudo, na prática, para que isto aconteça é necessário que:

     1 – A disciplina esteja organizada em tópicos desde a ementa (o que nem sempre é o caso).    

     2 – As questões, e a prova como um todo, sejam elaboradas e pontuadas conforme os tópicos descritos na ementa e no planejamento das aulas.    
     3 – A correção leve em conta os mesmos tópicos da ementa e do planejamento e seja apresentada não só como uma somatória de pontos, mas sim como um laudo atestando quais são os tópicos em que o aluno estaria aprovado ou reprovado.



Estes três itens estão muito longe do que se pratica hoje em qualquer nível de ensino, e postos desta forma parecem mais burocráticos do que práticos. Mas para mim há mais um elemento complicador, além da dinâmica destes três itens, que é o agrupamento de conhecimentos no formato de disciplinas.

Não que a média 6,0 seja um impedimento ao que vou exibir a seguir, mas para o exercício do pensamento, vamos supor a média 5,0, que é o critério ainda mais utilizado no país. Suponhamos também que o professor, de maneira atenta ou acidentalmente, tenha seguido os itens 1, 2 e 3 descritos anteriormente e que tenha atribuído pontos aos tópicos da disciplina. Vamos supor uma disciplina de 4 tópicos, A, B, C e D, com valor de 2,5 pontos cada. Pelo fato de a média ser 5,0 e de os tópicos terem sido pontuados desta forma, um aluno que sabe apenas os tópicos A e B é aprovado da mesma forma que um aluno que sabe apenas os tópicos C e D. Ou seja, aprovamos dois alunos que possuem conhecimentos 100% diferentes, apenas porque os conhecimentos adquiridos pelos 2 estavam inseridos na mesma matéria. Além disso, atestamos que ambos os alunos possuem conhecimentos de todos os tópicos A, B, C e D.

Apesar de ser a forma mais comum de avaliação, a simples somatória de pontos e o estabelecimento de uma quantidade mínima de pontos para aprovação parece um critério descompromissado, despreocupado, e até certo ponto irresponsável.

Além do problema mais óbvio, de que estamos atestando habilidades que o aluno eventualmente não possui, há mais dois problemas implícitos nesta questão. Primeiramente, como quantificar a “quantidade de conhecimento” ou relevância embutida em cada tópico para que se possa montar a nota da disciplina? E em segundo lugar, quais conhecimentos da disciplina são dispensáveis? Afinal o aluno pode ser aprovado sem boa parte dos conhecimentos!

Estes dois problemas em particular levam a uma reflexão ainda mais profunda: O que é a nota dez e o que é a nota cinco? O dez seria referente a todo o conhecimento do professor na disciplina ou a todo o conhecimento que o aluno deveria ser capaz de adquirir? E o cinco, o que seria afinal?

Se não sabemos dizer exatamente o que é o “dez” e o que é o “cinco”, tendo a crer que não estamos sendo claros em dizer ao aluno o que esperamos dele em cada uma das avaliações. Não estamos sendo claros nas avaliações parciais (P1), em que damos uma nota numérica e não apontamos com clareza como o aluno deve corrigir o curso de seu aprendizado para adquirir o restante do conhecimento. Não estamos sendo claros nas avaliações finais (P2) sobre quais são os conhecimentos essenciais e quais são os dispensáveis. Não estamos sendo claros sobre o que o aluno aprovado sabe e o que o reprovado não sabe.

Será que conseguimos resolver isso?

Não importa o quanto sejamos céticos ou pessimistas, neste momento vale o pensamento científico, ou seja: até que se prove que não é possível, podemos formular hipóteses e testá-las na busca de encontrar uma solução possível. Ou, em termos mais populares e diretos: “A ciência não vive de ‘não dá! ’! ”.


O meu modelo de escola ideal (a menos dos níveis muito, muito básicos) é o seguinte: ao se matricular, o aluno seria apresentado a um conjunto (ou árvore) de tópicos. O aluno, por si só, deveria buscar os conhecimentos relacionados a um ou mais tópicos de interesse e deveria estuda-los pelo tempo que achar necessário, até que se sentisse pronto para comprovar seus conhecimentos naquele tópico. Neste momento, o aluno solicitaria uma avaliação e seria avaliado, única e exclusivamente naquele tópico. Em caso de aprovação, a instituição atestaria que o aluno conhece o tópico. Caso contrário, a avaliação deveria dizer ao aluno quais são os conhecimentos que faltam. Neste caso o próprio aluno retornaria aos estudos e realizaria novamente a avaliação assim que se sentisse apto novamente.


Neste modelo de escola, imagino turmas ingressando uma ou no máximo duas vezes por ano. No lugar de professores, imagino tutores por turma que orientariam pequenos grupos de alunos cuja data de ingresso ou nível de avanço no curso fosse similar. Imagino que aulas seriam possíveis, mas apenas no caso de serem solicitadas pelos alunos, pelo fato de um grupo específico não compreender um determinado assunto. Caso contrário, imagino os alunos indo à escola todos os dias, mas para estudar e realizar projetos em conjunto, aprender uns com os outros e serem apenas guiados pelos tutores.

Este modelo terminaria, por exemplo, com o problema das reprovações. O aluno poderia ser avaliado em um tópico quantas vezes quisesse, no tempo em que quisesse, até conseguir a aprovação. É natural que alguns alunos precisem de mais tempo que outros para a absorção de determinados conteúdos, mas hoje damos um semestre para todos e reprovamos aqueles que precisariam de mais tempo.

Imagino que a avaliação por tópicos pudesse ser uma avaliação feita individualmente, a partir de um banco de questões relacionado àquele tópico, que pudesse gerar várias avaliações diferentes. A avaliação não retornaria uma nota, mas um conceito “Suficiente” ou “Insuficiente”. Isso faria com que todos os tópicos do curso fossem vistos e estudados, e que todos os alunos tivessem conhecimentos equivalentes.

Este modelo que proponho não é perfeito e também possui falhas, mesmo que eu ainda não as consiga perceber neste momento. Mas ainda assim, vale a reflexão. 

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

5 Dicas para Você Aprender Melhor

Boa tarde, pessoal!

Neste post resolvi trazer uma boa parte da minha experiência como aluno para ajudar você a entender melhor as matérias da faculdade, da escola ou de qualquer ambiente em que você esteja absorvendo algum conhecimento.

Nem sempre absorver conhecimento é algo fácil. Muitas vezes parece que não estamos entendendo nada, ou damos a famosa “travada”. Por isso, eu trago aqui algumas dicas que com certeza irão lhe ajudar a deslanchar nos estudos.

1 – Atenção



Nos momentos de aula ou explicação, é sempre muito importante que você dedique 100% da sua atenção ao que o professor ou palestrante está explicando. E isso é sempre muito difícil, pois frequentemente temos que encarar entidades como:

a. Uma temperatura desagradável em sala de aula;
b. Um ventilador que faz muito barulho;
c. Um colega engraçadinho que fica fazendo piadinhas;
d. Uma amiga fofoqueira que quer colocar os assuntos em dia em plena aula;
e. O “ZapZap” apitando mais do que juiz argentino em jogo do Brasil (perdón, hermanos!);
f. Ou até mesmo aquele coitado que pegou um hot dog estragado na cantina e soltou aquele “punzinho” inocente que acabou se tornando uma catástrofe

OBS: Já presenciei todas estas cenas como aluno e como professor!!!

É um exercício de paciência e treinamento. Porém, conforme você desenvolve esta habilidade, você aumenta em muito a absorção das informações que o professor apresentou, mesmo aquelas que você não havia entendido. Nosso cérebro fica processando as informações armazenadas subconscientemente até que você atinja a compreensão. Por isso, quanto mais você guardar, melhor.

Além de tudo, há estudos (cuja fonte desconheço, sorry!) que dizem que uma hora de atenção em aula equivale a quatro horas de estudo em casa. Apesar de não me lembrar da fonte, para mim isso faz total sentido. Então, se você dispõe de pouco tempo para estudar fora de aula, fica a dica!

2 - Descontração e descansos estratégicos



Por mais que você seja o maior CDF (expressão antiquíssima designando aquele que estuda por horas, ou simplesmente “ânus (substituir por termo chulo monossilábico) de ferro”) ou “Nerd” da sua turma, ainda assim a sua capacidade de dedicar total atenção a um assunto limita-se entre 20 e 50 minutos. Seja para assistir uma aula, ler um texto, estudar em casa ou conversar com alguém.

Por isso, é muito importante que, sempre que você sentir que a sua capacidade de atenção está comprometida, ou seja, que você está começando a se perder, chegou a hora da pausa estratégica. Durante a aula, o professor percebe isso na turma, por isso de tempos em tempos alguns professores fazem atividades, dinâmicas, pausas ou até mesmo contam histórias engraçadas.

Uma paradinha para tomar uma água ou fazer um xixi é sempre válida, em aula ou quando estudando em casa. A minha regra pessoal é que os períodos de concentração não podem durar mais do que uma hora, e as pausas não podem durar mais do que 10 minutos (exceto para almoço ou café da tarde, em que eu paro por uma hora ou 30 minutos, respectivamente). Você pode adequar esta regra às suas necessidades, mas lembre-se de que as pausas devem ser curtas, para que você não se afaste demais do foco. Fazendo isso você criará o próprio ritmo de estudo e proporcionará ao seu cérebro diversos momentos (de 20 a 50 minutos) de concentração máxima.

Um detalhe importante é o de que conforme você vai se cansando, os períodos de concentração vão se encurtando naturalmente. Quer um exemplo simples? Programe-se para assistir um filme em um canal de TV qualquer, pode ser a cabo ou aberto. Normalmente o filme é dividido em 5 partes. Quando você for assistir, pegue um caderno e anote os horários de início e fim de cada parte. Você verá que a primeira parte é sempre a maior, com aproximadamente 30 minutos. Depois disso as partes vão se encurtando para 15 ou 20 minutos e apenas a última parte aumenta, mas nem sempre. Você imagina o motivo?

3 – Dedicação, repetição e disciplina



Felizmente ou infelizmente, nosso cérebro possui um processo de aprendizado estatístico. Isso significa que somos capazes de aprender determinadas coisas ao receber inúmeros estímulos que possuam similaridade entre si. Nosso cérebro compara estes estímulos e aprende conforme percebe as semelhanças.

Este processo pode parecer falho, mas nos dá a incrível habilidade de aprender qualquer coisa (como uma língua, por exemplo) sem que tenhamos nenhum conhecimento anterior. Contudo, como tudo na estatística, o N (número de amostras) deve ser grande o suficiente. Ou seja: você terá que repetir a mesma informação para o seu cérebro uma grande quantidade de vezes.

Este processo muitas vezes requer paciência, dedicação e disciplina. Dependendo de como se leva as atividades, o processo pode parecer moroso (chato, entediante), mas é neste ponto (se você me acompanhou até aqui) que vem a dica mais importante: varie suas fontes!

O seu professor pode ser muito legal e até muito bom. Mas só a aula dele não vai lhe trazer estímulos suficientes para entender qualquer assunto que seja. Por isso, é muito importante que você procure absorver o mesmo conhecimento de outras formas. Exemplos:

a. Procure aulas de outras pessoas na internet (YouTube e afins);
b. Leia livros ou relatórios sobre o assunto;
c. Pesquise;
d. Faça exercícios;
e. Tente aplicar os conceitos da aula na sua vida;
f. Tente dar uma aula sobre o mesmo assunto para seus amigos.

Tirando o item “a” desta lista, ao qual eu não tinha acesso enquanto estudante, todos os outros itens eu fiz. Trago aqui alguns exemplos:

b. Ler livros ou relatórios sobre os assuntos: meu pai tinha várias enciclopédias em casa. Eu simplesmente procurava o que a professora havia ensinado nas enciclopédias para ver se ela estava realmente certa, e se não havia nada de novo.

c. Pesquisar: além das enciclopédias do item anterior, meu pai tinha 3 CDs-ROM que eu achava muito legais. Um era um dicionário, em que bastava digitar a palavra para ver seu significado. Eu ficava horas me divertindo com isso. Pesquisas bobas como o verbete “peido” podem lhe ensinar o termo coloquial “flatulência” que é um sinônimo. Basta se divertir!. O outro CD era um atlas e o último um guia do corpo humano. Aprendi muito com eles!

d. Faça exercícios: eu era o campeão de “dever-de-casa” da minha escola. Fazia todos os exercícios antes do prazo. Uma vez levei bronca da professora por fazer o dever de Matemática da semana toda em um dia só. Mas eu gostava, ué! Ela deveria ter me dado um dever especial, maior ou mais desafiador.

e. Tente aplicar os conceitos na sua vida: quando eu estava na quinta série, eu estava aprendendo porcentagem e havia entrado na natação. Na natação, a professora sempre dava metas como “10 chegadas de nado Crawl”, “5 chegadas de nado Costas”, e assim sucessivamente. Quando eu ia fazer os exercícios, eu ficava calculando de cabeça qual era a porcentagem que uma chegada representava, quantos pontos percentuais eu já havia completado, quantos faltavam e assim por diante. Nunca tive dificuldades com esta matéria.

f. Dar uma aula para seus amigos: como eu sempre gostei de dar aulas? Comecei assim! Eu ficava à tarde no colégio para dar aulas a alguns amigos que haviam perdido a matéria ou que estavam com dificuldades. É neste momento em que você aprende mais, porque tem que saber o suficiente para entender e sanar a dúvida de outra pessoa!

Por isso, não tem muito segredo. Um dos passos necessários é treinar, treinar, treinar e treinar!

4 - Não reclame, motive-se!




Nem tudo na minha vida como aluno foram flores. Enfrentei algumas “pedreiras” na faculdade. E quando eu digo “pedreiras”, não foram matérias difíceis. Por mais difícil que seja uma matéria, basta estudar legal. Pra mim a “pedreira” eram alguns poucos professores intransigentes. Gente do pior tipo, que se preocupa mais em humilhar o aluno do que entender sua dúvida.

De qualquer modo, foi com um desses professores que aprendi que reclamar (e xingar o indecente por trás mesmo) era o pior que eu podia fazer. Quanto mais eu reclamava, e quanto mais eu xingava, maior era o bloqueio que eu criava na minha mente, e com isso pior eu ia na matéria. Em um dia, em que eu estava muito iluminado decidi que não ia mais xingar o professor e nem reclamar. Só iria fazer o meu melhor e me concentrar. Resultado: passei na matéria (raspando!) e aprendi uma grandiosa lição em minha vida. Sobre a matéria, era “Mecânica dos Fluidos”. Me lembrem um dia e eu conto a história em detalhes.

Lembram do processo estatístico do cérebro? Então, reclamar muitas vezes da mesma coisa significa informar o seu cérebro de que aquilo é tudo o que você está dizendo que é. O pior de tudo é que quando reclamamos normalmente exageramos, então criamos um monstro em nossa cabeça que é ainda pior do que a realidade. Por isso, respire fundo, e não reclame!

Contudo, desabafar é aconselhável. Desde que seja sem exageros, com calma e com uma pessoa que lhe guie no sentido do equilíbrio. Desabafar com os pais muitas vezes piora as coisas, pois os pais (pelo menos os meus) sempre acham que o filho está sendo injustiçado, e acabam por piorar as coisas. Neste momento, equilíbrio é a chave.
  
5 - Avalie-se



Existe uma parte do aprendizado que se chama de “metacognição”. Significa mais ou menos saber o quanto se sabe sobre um determinado assunto. Por exemplo, se você me der uma equação do segundo grau para resolver eu sei que tenho que utilizar a fórmula de Bhaskara, e também sei que tenho conhecimento sobre esta fórmula, como deduzi-la e como utilizá-la. Por isso eu sei que sei resolver, mesmo antes de resolver, ou antes de saber qual será o resultado.

A metacognição funciona em qualquer assunto. Por isso é muito importante que você se avalie. Desta forma, você entenderá quais partes da matéria domina e em quais partes tem dificuldade. Suas dúvidas passarão a ser pontuais e focadas, e a sua compreensão da matéria como um todo aumentará muito.

Parece algo muito bobo, mas muitas vezes me deparo com alunos que dizem que não entenderam determinado assunto, mas não sabem explicar exatamente o porquê de não terem entendido. Saber o que perguntar é a grande chave para entender aquilo que não se está entendendo, e isso só pode ser atingido com o uso da metacognição, ou seja, entendendo claramente o que se sabe e o que não se sabe.

Estas foram as minhas 5 dicas para que você melhore o seu aprendizado. Mas espere! Ainda temos a dica extra, para você que é determinado e chegou até aqui!

Bonus Round - E se tudo der errado?



Estudar arduamente não é garantia de sucesso. Pode ser que um dia você repita, “tome bomba”, “leve pau”, ou “pegue DP” de alguma disciplina. Se você levou os estudos a sério, praticou e se dedicou, isto jamais será motivo de vergonha ou sinal de fracasso. Neste caso você repetiu porque, por mais que tenha se esforçado, algumas dificuldades surgiram de forma que você não absorveu os conhecimentos mínimos para receber a aprovação. Ou ao menos não os demonstrou nas avaliações.

Todas as pessoas têm suas dificuldades e seus problemas pessoais, e reprovar em alguma matéria por isso só significa que você precisou de mais tempo par absorver aquele conteúdo. Aliás, conteúdo leva tempo a ser absorvido! E este tempo varia de pessoa para pessoa. Ao refazer a matéria, você terá com certeza uma formação sólida, que lhe deu a aprovação somente quando de fato você mereceu, e provavelmente você terá mais conhecimento do que os colegas neste campo, pois estudou por mais tempo.

Vergonha é passar o período letivo todo sem levar os estudos a sério e ser reprovado. Isso acontece muito, e se deve à falta de maturidade de algumas pessoas.

Por isso, não se culpe por reprovar. Mesmo porque, depois da sua formatura o que valerá não é mais a sua nota, e sim seu conhecimento!


Muito obrigado pela atenção e pela leitura. Espero ter sido útil pra você neste texto.

Um abraço e até a próxima!

sábado, 7 de janeiro de 2017

Feliz 2017 e Projetos

Bom dia, queridos leitores,

Devo começar este post me desculpando (e muito!) pela longuíssima demora na produção de novos textos. Apesar da famigerada crise que vivemos, neste ano iniciei muitos projetos, e com isso não consegui dar ao meu blog (ou seja, a vocês) a atenção devida. Por isso, minhas sinceras desculpas.

Ainda neste breve preâmbulo, desejo a todos vocês um feliz 2017. Dentre tudo o que eu posso desejar, muito resumidamente desejo que este ano seja melhor do que 2016, o que é um grande alívio. Do mais, como diz o meu avô: “tendo saúde, o resto a gente corre atrás!” – Não é mesmo?

Feliz 2017!

Vamos ao ponto: no ano de 2016 abracei alguns projetos um tanto quanto desafiadores. Comecei o ano como professor de engenharia em uma faculdade de Jaguariúna (o que continuo a ser com orgulho), e estudante de pós-doutorado em Engenharia Mecânica na Unicamp (o que pretendo terminar na metade deste ano). Além destas funções, me tornei coordenador de um curso de engenharia e professor neste mesmo curso em Indaiatuba, além de passar 40 dias na Alemanha no 1º semestre a trabalho e iniciar um canal no YouTube voltado também à engenharia. Por isso não consegui postar nada neste blog depois de fevereiro. Mas não fiquem enciumados: também não postei nada ainda no meu canal novo (perfil procrastinador detectado!)

Neste ano pretendo me dedicar mais aos meus projetos (principalmente ao pós-doc, ao blog e ao canal), e para isso precisarei de uma certa ajuda de vocês. Pensei em algumas coisas aleatórias, e acho que a opinião de vocês seria muito válida neste momento (como deve ser sempre!). Segue uma lista de pensamentos, nos quais eu ainda estou em dúvida:

1) Com relação a este blog: deveria eu transformá-lo em um canal do YouTube, ou mesclar o conteúdo com o meu canal já existente?  Ou devo mantê-lo na forma de blog mesmo? (Lembrando que este é um blog cujo objetivo é discutir educação e ensino, normalmente voltado à engenharia, mas com o intuito de abranger todas as áreas). Meus pensamentos a respeito:

    a) Gosto do formato escrito porque permite a referenciação e estimula a prática da leitura.

    b) Contudo, o formato escrito restringe o público e exclui a grande maioria que não gosta de ler. Assistir um vídeo é mais fácil.

    c) Apesar de ser professor, eu acho que ainda escrevo melhor do que falo. Talvez as falas no vídeo sejam menos objetivas e eu consiga cobrir menos assuntos, ou de forma menos objetiva.

    d) Mas assistir um vídeo ainda é mais fácil.

2) Ainda sobre este blog, independente do formato, sobre que tipo de assunto eu devo escrever. Devo voltar os assuntos mais a técnicas e teorias de ensino (apesar de ter 0% de formação na área) ou devo falar mais do aspecto prático da coisa, no sentido de exibir o que eu acho falho na formação dos alunos que recebo, que formação está faltando, como o aluno pode fazer para aprender algo com mais facilidade, etc.

3) Sobre o canal no YouTube. Pensei que posso fazer um canal de duas formas: posso montar vídeo-aulas que sejam experimentos e que demonstrem certos fenômenos estudados na engenharia. Ou, em vez disso, posso montar um canal com vídeo-aulas básicas sobre os conteúdos nos quais os alunos de engenharia possuem mais dificuldade. Pensei em iniciar com cálculo e física, e depois transitar para as matérias específicas. Ou ainda, posso tentar mesclar ambos.

Enfim, com estes três dilemas eu inicio o ano de 2017. Por favor, comente neste blog ou no Facebook, ou me mande um e-mail, com sugestões com relação a estes três ou qualquer outro assunto que considerarem relevante, e eu tentarei incorporar as sugestões nos meus projetos!!


Muito obrigado e até a próxima!

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Por quanto errei a sua nota?

Imagem obtida de: http://mikeyllo.com/blog/wp-content/uploads/2010/12/frustrated_student.jpg

Olá, queridos professores, alunos e interessados!

O ano de 2016, como se diz na gíria, “chegou com tudo”! A introdução da reflexão que trago hoje é resultado do que aconteceu comigo nos últimos dois meses, por isso contarei primeiro a minha história, e depois seguimos ao tema principal.

Ao final de 2015, fiz uma reunião com o meu coordenador, na faculdade (privada) em que dou aula, para pedir um merecido aumento. Nesta reunião, meu superior me surpreendeu com uma oferta de emprego que para mim foi irrecusável: tornar-me coordenador do mesmo curso (Engenharia de Controle e Automação) em uma outra unidade da mesma faculdade.

Fiquei muito surpreso com a oferta, afinal fazia pouco menos de um ano que eu era professor nesta instituição, e além disso, eu tinha (e ainda tenho) 29 anos. Depois entendi que, além de possuir graduação exatamente no mesmo curso, e de ter uma avaliação positiva dos meus superiores, algo que contou muito para o convite foi o fato de eu ser um dos poucos professores na instituição com título de doutor. Por isso, professores, invistam em um doutorado!

Depois do choque, comecei a me animar com a atividade de coordenação. Afinal de contas, estando um “degrau corporativo” acima, eu poderia propor certas mudanças que muito me afligiam como professor! Hoje, 26 dias depois de assumir o cargo, ainda estou me adaptando a muitas situações e demandas, e percebi que, de fato, será possível propor algumas ações que melhorarão a vida de alunos e professores.

Na instituição em que agora coordeno um curso, a média para aprovação em todas as matérias é de 6,0 pontos. Um dia desses, um aluno veio a mim para pedir uma revisão de nota, pois o professor o havia reprovado com 5,5. “Poxa, só por causa de meio ponto? É muito pouco, será que não dá pra rever?” – ele dizia.

Apesar de ser também uma diretriz da faculdade, o meu princípio diz que o professor é quem tem a autoridade sobre estes casos. Seu julgamento sobre o desempenho de cada aluno, ao meu ver, é soberano. Enquanto o aluno fazia seu apelo, do outro lado da mesa, eu acabei tendo um insight, que agora sim chega ao tema desta reflexão: será que uma nota numérica, ou mesmo por conceito (A, B, C, etc.) é o melhor instrumento de avaliação do aluno?

Fiquei pensando no caso do professor, fechando as notas desta matéria. Como é de praxe, nós professores sabemos que notas são instrumentos de avaliação subjetivos, e por isso sujeitos a erros difíceis de medir. Por isso, quando um aluno tem uma nota menor, mas muito próxima da média, é comum que reavaliemos os casos específicos e ajustemos a nota caso necessário. O professor, com toda a certeza, viu o caso do aluno e julgou que ele não estava apto a ser aprovado.

A diferença entre ser aprovado ou não, no caso deste aluno, não é “meio ponto”. A reprovação foi o resultado de um julgamento do professor sobre todas as ações daquele aluno naquele semestre. Ou seja, o aluno queria um “sim”, mas ganhou um “não”, o que são conceitos muito opostos, diferente da pequenez do “meio ponto” ao qual o aluno se referiu.

Contudo, a nota numérica traz uma ideia de “quantificação do saber”. Aparentemente, a percepção do aluno (como eu repito que um dia foi a minha) é que o esforço que ele fez no último semestre lhe rendeu 5,5 pontos. Com um pouquinho mais de esforço ele conseguiria 6,0 pontos e seria aprovado, ou seja, ele quase sabe tudo o que se deve saber sobre aquele assunto para ser aprovado.

Além disso, se o aluno for estatisticamente consciente, ele pode perguntar ao professor sobre qual o tamanho do erro que ele admite, ou ao menos estima, em sua avaliação. E aí, qualquer resposta que se pense estaria muito longe da correta, pois precisaríamos de milhões de alunos fazendo exatamente a mesma prova, e sendo avaliados exatamente segundo o mesmo critério para ter uma ideia. Isto com relação a cada avaliação.

É por isso que o julgamento do professor, no momento da decisão pela aprovação ou não aprovação do aluno, é um parâmetro muito mais razoável do que um conceito numérico. Mesmo com toda esta argumentação, não prego pelo abandono da nota numérica. Ela é uma métrica, ajustada por cada professor, para que se possa observar com certa clareza quais os alunos que deveriam ser, com toda a certeza, aprovados ou reprovados, e quais alunos precisam de uma maior atenção do professor para a aprovação. Em outras palavras, com a nota numérica é possível separar os alunos em três grupos: os aprovados, os reprovados e os alunos a julgar.

Porém, esta métrica é algo muito mais útil ao professor do que ao aluno. O fato é que, para um professor específico, fazer esta distinção utilizando um instrumento de avaliação e uma métrica é razoável. Contudo, uma questão importante é a subjetividade da nota mínima para aprovação, ou “nota de corte”. Já vi instituições que trabalham com nota de corte 5, 6 e 7. Contudo, a diferença numérica entre estas notas não significa muito.

Da mesma forma que o julgamento de cada aluno é uma questão subjetiva do professor, o julgamento da quantidade de conteúdo que equivale à nota de corte também o é. Levando em conta que sabemos que o conhecimento não é quantificável, se dois professores lecionarem a mesma matéria, o 5,0 de um pode equivaler a menos conhecimento do que o 5,0 do outro. Então, os alunos diretamente classificarão o primeiro professor como mais “fácil” e o segundo como mais “exigente”. Normalmente o segundo é agraciado com adjetivos de baixo calão.

Em algumas instituições, a nota (ou a média das notas) de cada aluno é utilizada para classifica-los e para ceder alguns benefícios a alguns e não a outros. Estes benefícios vão desde prêmios por desempenho até prioridade na matrícula em um determinado horário do curso.

Eu passei por isso durante a minha graduação na Unicamp. Sempre morei em Jundiaí, e ia de ônibus fretado para a faculdade. Como meu curso era noturno, conseguir a matrícula nas matérias oferecidas à noite acarretaria em menores custos para os meus estudos. A minha turma tinha 50 alunos, mas algumas matérias eram ministradas em laboratório, de forma que as turmas noturnas tinham apenas 15 vagas. Resultado: eu tinha que estudar bastante para estar sempre entre os 15 “melhores”, ou entre os 15 com as maiores médias, para conseguir minha matrícula.

No fundo, eu nunca tive problemas e sempre consegui minha vaga à noite. Porém, eu tinha sempre duas alternativas: ou me matriculava com o professor mais “fácil”, e como consequência aprendia “menos”, ou me matriculava com o mais exigente, e me comprometia a estudar mais. Como todo o bom “nerd”, sempre escolhi a segunda opção, mas passei por “poucas e boas” para conseguir os números desejados como nota.

Só depois de muito tempo, percebi que aqueles números que tanto busquei eram sim uma métrica, com todas as falhas que uma métrica pode ter, e que eles não eram capazes de quantificar o meu saber, e muito menos a minha capacidade como estudante e pesquisador. Creio que a única maneira de eu ter uma noção da grandeza das minhas capacidades, como ser humano, é fazendo uma autoavaliação, sempre muito crítica e honesta. Como engenheiro, eu digo que se nem uma grandeza vetorial não é capaz de me descrever, imagine uma grandeza escalar!

Mas esta não é a mensagem que estamos passando aos nossos alunos. Atribuímos a ele, ou a seus fazeres uma nota, e esta nota deve classifica-lo, portanto é capaz de quantifica-lo naquela que é a única atividade pela qual parecemos nos importar: a habilidade de responder corretamente uma quantidade massiva de questões.

Creio que valha muito a pena trabalharmos na conscientização do aluno, sobretudo no que diz respeito à autoavaliação das capacidades e do conhecimento adquirido. Queremos que o nosso aluno saiba dizer se aprendeu ou não aprendeu um determinado conteúdo muito antes de ser avaliado. Somente esta percepção será capaz de alimentar o seu bom senso e a sua procura pelos conhecimentos que de fato lhe faltam, evitando assim horas de estudo que não o levarão ao desenvolvimento concreto de seu conhecimento.


São perguntas básicas, que não ensinamos nossos alunos a se perguntarem, muito menos a responderem honestamente. “O que eu ainda não sei?”. “Por que eu não estou entendendo?”. “O que o professor espera que eu saiba?”. “O que eu preciso saber para compreender e dominar este assunto?”. “Qual conhecimento específico me falta para que eu consiga aprender este conteúdo?”. O aluno que aprende a se perguntar e a responder honestamente a estas questões, é automaticamente capaz de aprender com qualidade qualquer assunto. Não é isso o que queremos?

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Controlando o Stress no Processo Ensino-Aprendizado

Figura obtida de: http://theunboundedspirit.com/the-effect-of-stressful-emotions-on-the-body-and-mind/
O stress é uma variável muito importante no processo ensino-aprendizado. Professores que atuam sob altos níveis de pressão tendem a ter um relacionamento interpessoal ruim com os alunos, professores e até mesmo com sua família, tornando o stress uma entidade que se realimenta. Por outro lado, alunos que sofrem altas cargas de stress tendem a se concentrar menos nos períodos em que deveriam estar mais ativos, e adquirem uma percepção distorcida sobre todos ao seu redor, sejam professores, amigos ou familiares.

No entanto, deve-se ter em mente que, enquanto o excesso de pressão é certamente prejudicial, um nível baixo e controlado de stress pode ser benéfico, propiciando certa objetividade e aumentando os níveis de produtividade, desde que esta situação não se estenda por períodos muito longos.
Com a evolução das tecnologias, estamos acostumados a sempre ter as respostas e informações que queremos, prontamente em mãos, e esta tendência cria uma percepção de que tudo deve estar pronto e funcionando imediatamente. Com isso, não é difícil perceber que muitas pessoas parecem ter uma ansiedade muitas vezes descabida na espera por um resultado, uma nota, um saldo, e outras coisas banais.

Porém, algo que nunca ninguém nos ensina, é como lidar com o stress. É possível ter uma produtividade mais alta e um humor melhor simultaneamente? É possível melhorar as notas na escola e o relacionamento com os familiares e amigos? A resposta é SIM, e neste post mostrarei algumas ideias que para mim funcionaram muito bem.

A palavra-chave é: Mudança

A palavra “stress” vem do Inglês e possui vários significados, sendo eles: pressão, ênfase, tensão, deformação, e, claro, a condição psicológica da qual estamos tratando. Muitas vezes, este sentimento de pressão, tensão e desgaste que sentimos pode estar relacionado com a saturação, ou seja, a exposição a determinadas situações até o ponto em que atingimos um certo limite, a partir do qual a mente começa a reagir para impedir estas situações, às vezes com intensidade alta.

Eu mesmo, em períodos de alto estresse já desenvolvi várias dermatites, despigmentações localizadas na pele (diferentes de vitiligo), crises de enxaqueca e ganho de peso. Já meu irmão, quando estava na terceira série (hoje quarto ano) do ensino fundamental, teve uma professora que lhe causou tamanho stress que ele desenvolveu um tipo de epilepsia. Hoje, felizmente, ele está livre dos ataques.

Uma das estratégias que funcionam para algumas pessoas é a mudança de ambiente. Para o caso de estudantes, a mudança no local de trabalho ou estudo pode ajudar significativamente. Algo que eu pessoalmente gostava de fazer era escolher um local onde eu tivesse uma vista o mais distante possível. Assim, ao intercalar períodos de leitura (com o foco próximo) e olhares ao horizonte (foco distante), eu evitava o cansaço dos olhos, dores de cabeça, e dava um tempo para o meu cérebro processar algumas informações.

No caso de professores, a mudança do local do escritório (até mesmo para um home-office, se puder), ou a mudança do local de aula, utilizando diferentes espaços fornecidos pela instituição que não a sala de aula convencional, podem ser fundamentais no processo de tirar o foco do causador de stress. Esta mudança pode ser muito bem acompanhada por uma mudança no método de ensino, pois muitas vezes o novo ambiente pode possuir recursos diferentes de uma sala tradicional. Ex: uma biblioteca pode não ter uma lousa, mas pode possuir livros, sofás e um espaço multimídia.

Esta segunda mudança muitas vezes é benéfica a alunos e professores, se usada mais como exceção do que como regra. Dar um curso todo fora da sala de aula pode parecer uma ideia fresca e inovadora. Porém, a falta de aulas no estilo “tradicional” pode dar aos alunos uma impressão de que o curso não é sério, e em alguns casos pode gerar uma ansiedade desnecessária. Isto vem acontecendo em muitos cursos universitários em que as metodologias ativas estão sendo implementadas.

Mudanças de ritmo de trabalho também são muito aconselháveis. A minha percepção como pesquisador é que as boas ideias sempre surgem depois de um determinado tempo, não necessariamente depois de uma determinada quantidade de pensamento. É claro que sem nenhum pensamento, as ideias não virão. Porém, o que tem me ajudado muito neste processo é dar algumas pausas em determinados assuntos (às vezes de alguns dias). Ao retomá-los ou na iminência de retomá-los as boas ideias surgem, e o desgaste se torna menor, talvez compensado pelo breve descanso e pelo interesse na nova ideia. É o que os americanos normalmente chamam de “smell the roses”, que se refere a uma pausa para “cheirar as rosas”.

Há outras três mudanças muito interessantes que merecem destaque neste texto, que são a dessensibilização, a terapia racional emotiva e são a mudança de percepção e serão comentadas a seguir.

Treinar Para Dessensibilizar – Mudança Na Sensibilidade

A Dessensibilização Sistemática é uma tendência muito utilizada na psicologia, usualmente no tratamento de pessoas que passaram por situações extremas de stress e desenvolveram traumas. As técnicas envolvem expor novamente a pessoa a situações similares, mas em um ambiente controlado, para que ela possa acessar as memórias daquele evento e desassociá-las lentamente do choque que foi causado.

No caso de professores, muitas vezes, lecionar em salas de aula com muitos alunos pode soar como algo extenuante. Porém, se o mesmo professor começar com uma sala de aula pequena, e ao longo dos semestres for aumentando a quantidade de alunos gradativamente, em algum tempo grandes salas não serão mais motivo de pressão para este professor.

Mas a situação mais comum é sempre a dos alunos com excesso de ansiedade ou nervosismo em situações de avaliação. Trabalharemos esta situação nas três abordagens de destaque neste texto. Nestes casos, é altamente recomendado que as aulas tenham momentos do tipo quiz (jogo de perguntas e respostas), valendo uma parcela significativa, mas não tão grande da nota. Isto tende a fazer com que eles se acostumem a ser avaliados com maior frequência, tornando esta situação gradativamente menos traumática.

Outras abordagens de avaliação como a avaliação continuada em vez da avaliação concentrada em um dia e horário, também trazem bons resultados em termos de aprendizado e dessensibilização (experiência própria). Algo que dá mais trabalho ao professor mas tende a tranquilizar o aluno é flexibilizar a data da avaliação. No meu grupo de trabalho, foi proposto a uma turma que as avaliações poderiam ser feitas em duas datas distintas, de forma que parte dos alunos escolheram realiza-la na primeira data enquanto que outra parte resolveu realiza-la na segunda. Isto exige que o professor elabore duas avaliações diferentes sobre o mesmo assunto, mas com níveis de dificuldade equivalentes. Neste caso os alunos se sentiram acolhidos e entenderam que o objetivo do professor era de fato ensinar, e não os punir.

Mesmo assim, é bom ficar atento a cada aluno individualmente, pois as pessoas podem responder diferentemente a estímulos iguais. Neste caso, aconselha-se encaminhar o aluno a um psicólogo.

Terapia Racional Emotiva – Mudança no Padrão de Pensamento

A Terapia Racional Emotiva é uma técnica da Abordagem Comportamental da Psicologia. Como eu não possuo formação em Psicologia e este texto não é um texto formal sobre Psicologia, pode haver pequenas imprecisões técnicas nos termos utilizados. Porém, a minha explicação breve e leiga sobre esta terapia já traz alguns bons ganhos a esta discussão.

Em uma introdução muito breve, esta teoria postula que muitas vezes temos pensamentos que são irracionais e contribuem negativamente à nossa saúde, chamados tecnicamente de pensamentos disfuncionais. Estes pensamentos normalmente nos fazem sentir mal. A solução para isto, segundo a teoria, seria de atacar estes pensamentos irracionais com pensamentos muito racionais e lógicos, até que o padrão de pensamento seja alterado por completo.

No caso dos alunos que sentem muita ansiedade em períodos de avaliação, são comuns os seguintes pensamentos: “a prova vai estar muito difícil”, “o professor vai ‘ferrar’ todo mundo”, “eu tenho certeza que vou muito mal”, “eu vou ‘ter um branco’ na hora”, “e se eu não estudei justo a parte que vai cair? ”, “eu não vou conseguir”, “se eu for mal meus pais vão ‘me matar’”, “se eu for mal vou perder a minha bolsa”, “eu sempre erro alguma conta”, etc. A solução, segundo a teoria é atacar estes pensamentos que causam ansiedade e mal estar com pensamentos do tipo: “eu sei a matéria, porque estudei tudo o que foi recomendado”, “eu só vou esquecer as coisas se ficar nervoso, então tenho que ficar calmo”, “eu fiz os exercícios e tirei as dúvidas, então é só ficar bem atento para não errar”, “a avaliação é como uma lista de exercícios, só que feita em sala de aula”, etc.

É claro que estes pensamentos racionais devem ser embasados em fatos reais. Caso o aluno não tenha se preparado, já é possível prever o resultado na avaliação independente do nervosismo, ansiedade ou pensamentos racionais. Além disso, os pensamentos racionais, neste caso, ajudam no autoconhecimento do aluno. Nem sempre é fácil, para os alunos menos maduros, ter uma noção correta a respeito do nível de compreensão da matéria. É frequente encontrar alunos que acreditavam que sabiam a matéria por completo e obtiveram resultados desastrosos nas avaliações. Nestas situações, o professor pode contribuir orientando o aluno a entender melhor como saber se o conteúdo de fato foi absorvido ou não.

É extremamente desejável que o aluno (e até mesmo o professor) saiba dizer com muita clareza se aprendeu um determinado conteúdo ou não. Não podemos nos esquecer que o objetivo do aluno é aprender (verbo na voz ativa). Se o próprio aluno consegue constatar que não aprendeu satisfatoriamente um determinado conteúdo, então ele mesmo poderá buscar mais conhecimento e compreensão, e em uma situação de honestidade ideal de ambos os lados, a avaliação se tornaria um objeto desnecessário e talvez obsoleto.

Voltando à terapia, de maneira muito simples ela pode ser aprendida e autoaplicada por qualquer pessoa. Porém, o acompanhamento de um Psicólogo é sempre aconselhado.

Mudança de Percepção

Em algumas situações muito cotidianas, é fácil perceber que a irritabilidade é mais um hábito do que de fato uma defesa do próprio corpo, como uma reação do tipo “luta ou fuga”. Um exemplo muito prático é o trânsito. Quando o motorista mais próximo não faz exatamente aquilo que desejamos que ele fizesse, é comum estufarmos o peito, proferirmos alguns maus exemplos seguidos de buzinadas e gestos censuráveis, e depois disso arrancarmos com o veículo em desabalada carreira por alguns metros. Mas muitas vezes o que aconteceu foi um simples fruto de desatenção ou falta de prática, que em suma não passou perto de colocar sua vida e integridade física e patrimonial em risco. Então, por que ficamos tão nervosos? É pelo simples hábito de reagir com esta intensidade a este tipo de reação.

Nestes dias me ocorreu um pensamento do tipo: “se os refugiados da Síria preferem encarar uma viagem mortal a ficarem em seus países, talvez eles nem se importassem em dirigir tão lentamente ou levar algumas ‘fechadas’”. É claro que o exemplo é um pouco absurdo, mas se vivêssemos em uma zona de guerra e a saída fosse dirigir por algumas horas no trânsito, todos os dias, dirigiríamos muito felizes. Isto se deve ao fato de que nestas situações hipotéticas, as pessoas possuem percepções muito diferentes.

Neste ano letivo (que ainda não acabou), passei por algumas situações que me levaram a um nível de stress que meu corpo apresentou sinais de que não suportaria. Uma delas foi de um aluno que questionou veementemente o meu método de ensino. A outra foi a revolta de uma turma de 50 alunos, dos quais 45 haviam obtido um resultado péssimo na primeira avaliação do semestre. Neste segundo caso, o fruto do resultado foi a extrema falta de base dos alunos, e não o nível de dificuldade da prova (pelo qual fui fortemente questionado).

Em ambas as situações, fiquei extremamente mal e frustrado, porque tenho uma relação muito afetiva com meus alunos e muito rigorosa com a qualidade do meu trabalho. Nas situações, tanto a relação afetiva se comprometia quanto a qualidade do meu trabalho era questionada. Em ambos os casos me senti muito mal, nervoso, depressivo, e tique queda de imunidade, seguida de resfriados fortes, e algumas dermatites.

O que me levou a sair desta situação traumática e nada saudável foi a simples mudança de percepção, que foi disparada pelo contato com os meus princípios como professor. Este contato veio de conversas com a minha esposa, com meus amigos e grupo de trabalho, e com a leitura de alguns livros sobre educação. Uma das frases mais marcantes eu li no livro Teaching Engineering, de Wankat e Oreovicz: “Our position on human potential is that people want to learn. Therefore, we search for ways to stop demotivating students while realizing that a few discipline problems always exist.” Traduzindo: “A nossa posição sobre o potencial humano é que as pessoas querem aprender. Portanto, procuramos por maneiras de parar de desmotivar alunos enquanto mantemos em mente que alguns poucos problemas disciplinares sempre existirão.”

Esta citação está em completo acordo com os meus princípios como professor. Meu objetivo nunca foi o de punir nenhum aluno, mas sim o de auxiliar e ensinar o máximo de conhecimento possível. É evidente que alguns problemas de mau comportamento existirão, mas se eu for compreensivo a ponto de não levar estes problemas para o campo pessoal (a menos de algo muito sério), estarei muito mais apto a desenvolver meu aluno como pessoa e profissional. Às vezes, manter uma postura firme é necessário se o objetivo é bom, não punitivo, e tem que ser alcançado. Me apeguei a isto em vez de me questionar sobre a qualidade do meu trabalho, porque sei que fiz o melhor que eu poderia fazer.

O resultado, em ambos os casos, foi que a turma realmente entendeu os objetivos, mudou a mentalidade, comportou-se muito bem em todas as aulas, e trouxe alguns resultados marcantes. O primeiro deles foi que alguns alunos, que normalmente têm um desempenho mediano nas matérias, obtiveram resultados melhores até do que os alunos que sistematicamente tiram as melhores notas. O segundo foi que, alguns alunos que não conseguiram a aprovação, ou conseguiram, mas com desempenho marginal, vieram se desculpar pela má performance e prometeram se esforçar mais nos próximos semestres, o que mostra um nível de conscientização muito desejável.

O fato mais importante é que este resultado foi em grande parte alcançado porque eu fui capaz de corrigir minha percepção no meio do caminho, e dei a eles a direção certa a seguir (algo totalmente fora do campo técnico). Portanto, além do benefício próprio, a turma toda pode se beneficiar da minha mudança de percepção.

Outra situação muito importante está relacionada com a minha trajetória como aluno. Depois que saí da graduação, tive um daqueles “estalos”, e meus objetivos como aluno simplesmente mudaram. Passei a me comprometer exclusivamente com o meu aprendizado, e não com as minhas notas. Com isso, as notas se tornaram apenas uma devolutiva do professor sobre como eu me desempenhava em cada matéria. O resultado foi que das 12 matérias que cursei entre o mestrado e o doutorado, tirei A em 11 e B em uma, por causa de meio ponto (de 0 a 10). Levando em conta que meu desempenho nas matérias de graduação era em média de 75%, é evidente que esta mudança de percepção como aluno elevou em muito o meu nível de aprendizado. Além disso, um segundo benefício foi que eu ficava extremamente calmo, em todas as avaliações pelas quais passei (incluindo defesas de dissertação e tese).

Considerações Finais

A carreira de professor e a condição de aluno e estudante são de fato muito estressantes, se não as tratarmos com muito cuidado. Com este texto, espero que você como leitor do meu blog possa ter refletido sobre situações da sua vida e encontrado potenciais mudanças que lhe trarão benefícios e bem-estar.

Muito obrigado pela leitura, deixe seus comentários logo abaixo, ajude a divulgar meu blog e até a próxima!



quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Dica para uso de calculadoras científicas CASIO

Você, professor ou aluno, já deve ter percebido que, apesar de ser uma excelente calculadora, é muito fácil cometer erros quando fazendo contas nas calculadoras científicas mais comuns do mercado: as CASIO.

O vídeo abaixo vai ensinar a evitar seus erros e aumentar muito a precisão de suas contas, utilizando as variáveis internas da calculadora. Confira!!


Boas aulas a todos!

domingo, 8 de novembro de 2015

Como se tornar um bom (ou melhor) professor?

Adaptada de: http://qualitycustomessays.com/blog/form-good-relations-professor/

A pergunta que faz o papel de título deste post, é certamente uma daquelas questões que todo professor já se perguntou à exaustão. Com o passar do tempo, e com a rotina comumente atribulada e intensa, nos acostumamos a não encontrar uma resposta objetiva a esta inquietação. Mas e se houvesse uma resposta a esta pergunta?

Durante uma das minhas pesquisas, na saga por encontrar bons livros sobre ensino, me deparei com um livro em pdf (e gratuito), escrito por Phillip Wankat e Frank Oreovicz*, chamado “Teaching Engineering” (do Inglês, Ensinando Engenharia). O livro é escrito em Inglês, e pode ser encontrado no endereço: https://engineering.purdue.edu/ChE/AboutUs/Publications/TeachingEng/Book.pdf .

Apesar do nome, diretamente ligado à aplicação de técnicas de ensino em cursos de engenharia, o livro aborda muitos assuntos e técnicas que são diretamente adaptáveis ou transponíveis à grande maioria dos cursos e níveis de ensino. Por isso, acredito que você encontrará muitas futuras referências a este livro aqui neste blog.

Logo nas primeiras páginas, os autores propõem a discussão que deu origem ao texto de hoje: o que é necessário fazer para se tornar um bom professor?

Todos nós sabemos que esta pergunta não tem uma resposta única, e muito menos uma resposta certa. Se existisse uma fórmula que funcionasse para todos os professores, talvez não existisse nenhum curso de pedagogia. Mesmo assim, nós sabemos, intuitivamente, que algumas coisas podem funcionar melhor do que outras.

Porém, a chave para a discussão está justamente na expressão “bom professor”. Como sabemos que (ou se) um professor é bom ou ruim? Algumas teorias relativamente recentes esclarecem alguns pontos interessantes.

Modelo Bidimensional de Ensino

Uma maneira intuitiva de quantificar a “qualidade” de um professor é através da avaliação que os alunos fazem sobre este professor. Neste ponto, um estudo conduzido por Joseph Lowman, em 1985, propõe que a avaliação dos alunos é fortemente baseada em duas dimensões: o entusiasmo intelectual e a conexão interpessoal.

O entusiasmo intelectual está relacionado ao comprometimento do professor com o conhecimento e com a sociedade. Este aspecto normalmente vai de encontro com o que os professores (pelo menos os de engenharia) creem ser o mais importante. Ter grande entusiasmo intelectual implica em aspectos como: organização, clareza de apresentação, material atualizado, e aspectos de desempenho, como demonstração de energia, entusiasmo e paixão pelo conteúdo apresentado, clareza de linguagem e pronúncia e capacidade de cativar os alunos.

Isto vai de encontro também com a minha experiência pessoal como aluno. Durante a graduação eu costumava dizer aos meus colegas que, no fim das contas, a importância que eu daria a uma matéria seria a mesma que o professor daria a ela.

Já a segunda dimensão, a conexão interpessoal, está relacionada ao comprometimento do professor para com os alunos enquanto seres humanos. Segundo os autores, esta conexão é desenvolvida quando o professor demonstra interesse nos alunos como indivíduos. Saber o nome dos alunos (uma prática que eu já sigo) é um bom começo, mas os autores sugerem também que nós procuremos saber algo a respeito de cada aluno. Outros aspectos importantes desta dimensão são:
- Encorajar pensamentos independentes, mesmo que eles não estejam de acordo com os do professor,
- Estar disponível para consulta tanto dentro quanto fora de sala de aula.

Note que, muitas vezes, os aspectos de ambas as dimensões citadas podem ser conflitantes. Mais do que isso, eles podem interagir. Por isso, Lowman propôs um diagrama, mostrado a seguir, que demonstra o resultado da interação das duas dimensões na avaliação feita pelos alunos.

Diagrama original adaptado de Lowman (1985)


Neste diagrama, é possível relacionar os diferentes níveis de entusiasmo intelectual e conexão interpessoal que um professor pode ter, e a provável percepção que os alunos terão deste professor. Além disso, a possível preferência dos alunos é atribuída através de números de 1 a 9 (sendo 1 o menos preferível e 9 o mais preferível), sendo que estes números são atribuídos através das diagonais ascendentes da direita para a esquerda.

Wankat e Oreovicz propõem uma expansão a este diagrama, incluindo uma coluna à esquerda que contempla os professores cujo nível de conexão pessoal é considerado “castigador”, pois este nível também é observado com frequência relevante. Assim o diagrama fica da seguinte forma:

Diagrama adaptado de Wankat e Oreovicz (1993)


A classificação dos níveis de conexão interpessoal e entusiasmo intelectual se dá então da seguinte forma:
Conexão interpessoal:
- Alta: aberto, acolhedor, previsível e altamente orientado ao aluno.
- Moderada: relativamente acolhedor, acessível, democrático e previsível.
- Baixa: frio, distante, controlador e imprevisível.
- Castigador: ofensivo, sarcástico, desdenhoso, controlador e imprevisível.

Entusiasmo intelectual:
- Alto: extremamente claro e empolgante
- Moderado: claro e interessante
- Baixo: vago e enfadonho

É interessante notar que, segundo o diagrama, caso um professor deseje melhorar sua avaliação, é mais eficiente (no sentido de render mais pontos) melhorar o entusiasmo intelectual do que a conexão interpessoal.

Vale notar também que um professor de alta conexão interpessoal e baixo entusiasmo intelectual (posição 4) é menos preferível do que um de baixa conexão interpessoal e alto entusiasmo intelectual (posição 6). Porém, é compreensível que um professor de posição 4 tenha um melhor desempenho em uma sala pequena, com muita participação dos alunos, enquanto que um professor de nível 6 se sairá melhor em salas de aula com quantidades massivas de alunos, onde a relação interpessoal é naturalmente pequena.

A impressão dos autores do livro, que é baseada em uma amostra pouco relevante, estatisticamente, mas com a qual eu concordo, é que a maior parte professores de engenharia possui um nível moderado de entusiasmo intelectual, enquanto que a distribuição entre os níveis de conexão interpessoal parece ser homogênea.

Porém, o mais importante sobre esta classificação é que ela propõe que a grande maioria dos professores, se não todos, é capaz de melhorar suas habilidades de ensino. Além disso, não se pode valorizar apenas a posição 9. São muito raros os professores que atingiram este nível. Os professores das posições 5 em diante já podem ser considerados bons em aspectos importantes, e a posição 5, em si, é acessível a todos.

Componentes Afetivas do Ensino

Completando a teoria desenvolvida por Lowman e defendida por Wankat e Oreovicz, Hanna e McGill publicaram um trabalho em 1985 que afirma que alguns aspectos afetivos são mais importantes no aprendizado do que o método utilizado. Eles listam quatro aspectos que são críticos para um ensino eficaz, que são:

1) Valorizar o aprendizado
2) Utilizar orientação centrada no aluno
3) Acreditar que os alunos podem aprender (esta é muito importante!!)
4) Sentir a necessidade de ajudar os alunos a aprender

Note que estes aspectos são contemplados nos diagramas já apresentados neste texto. É impossível possuir alto nível de entusiasmo intelectual e não valorizar o aprendizado, ou não sentir a necessidade de criar um material que realmente auxilie no aprendizado. Já um alto nível de conexão interpessoal implica em utilizar uma orientação centrada no aluno, e na crença (inabalável) de que o aluno conseguirá de fato aprender o conteúdo.

Sobre o nível “castigador” de conexão interpessoal, os alunos podem aprender o conteúdo temendo o professor (salvo o caso de alunos imobilizados pelo medo), ou, no caso dos melhores alunos, apesar de terem um bom desempenho na matéria, podem desenvolver aversão a este conteúdo ou área, o que é nocivo. A opinião comum aos autores (eu incluso) e à AAUP (Associação Americana dos Professores Universitários) é que este comportamento é antiprofissional. A única “justificativa” para a adesão a este nível é o treinamento dos alunos para profissões onde o ambiente é igualmente castigador, como lutadores, árbitros esportivos, advogados, entre outros. Mesmo assim, os professores que deixam de exibir este comportamento têm suas avaliações melhoradas instantaneamente.

O que funciona: uma compilação de princípios de ensino.

Para encerrar a discussão, Wankat e Oreovicz listam uma série de excelentes princípios, que, na minha opinião, devem ser buscados diariamente em nosso ofício. São eles:

- Guie o aprendiz. Tenha certeza de que o aluno conhece os objetivos. Informe ao aluno os próximos passos. Forneça organização e estrutura apropriadas ao seu nível.
- Desenvolva uma hierarquia estruturada de conteúdo. A organização do material deve ser clara. Mesmo assim, é necessário dar oportunidade aos alunos de fazer a estruturação. Os conteúdos devem sempre incluir conceitos, aplicações e solução de problemas.
- Use imagens e aprendizado visual. A maioria das pessoas prefere o aprendizado visual e têm uma melhor retenção quando esta técnica é utilizada. Encoraje os alunos a desenvolverem seus próprios esquemas visuais.
- Mantenha o aluno ativo. Os alunos devem sempre estar muito envolvidos com a matéria. Isto pode ser feito via oral ou escrita.
- Exija a prática. Aprender conceitos, tarefas e solução de problemas difíceis requer a oportunidade de treinamento em ambiente não ameaçador. A repetição ajuda no ganho de velocidade e precisão nestas tarefas.
- Forneça um parecer. O parecer deve ser imediato, e de toda forma possível positivo. A recompensa funciona muito melhor do que a punição. Além disso, os alunos precisam de uma segunda chance para praticar depois do parecer, para que possam se beneficiar desta prática.
- Tenha expectativas positivas com relação aos alunos. Quando o aluno sente que a expectativa do professor é positiva e o professor o respeita, ele se sente altamente motivado. Baixa expectativa e desrespeito, por outro lado, são desmotivadores. Isto é um princípio, e não um método. Um mestre completo realmente acredita que seus alunos são capazes de alcançar coisas grandiosas.
- Forneça meios para que os alunos sejam desafiados E bem-sucedidos. Tenha certeza de que os alunos possuem a base necessária. Forneça tarefas e tempo suficiente para que todos consigam realiza-las, sentindo-se desafiados. O sucesso é muito motivador.
- Individualize o estilo de ensino. Utilize uma grande variedade de estilos e exemplos de forma que cada aluno possa utilizar seu estilo favorito e ao mesmo tempo torne-se proficiente em todos os estilos.
- Torne a turma cooperativa. Utilize exercícios cooperativos. Não dê notas utilizando um critério comparativo, mas sim um critério absoluto.
- Faça perguntas intelectualmente provocantes. Estas questões não precisam ter respostas, mas devem fazer com que os alunos sejam estimulados a pensar. Isto se mostra particularmente motivador para alunos maduros.
- Demonstre entusiasmo e prazer em ensinar e aprender. O entusiasmo é motivador e ajuda os alunos a desfrutar das aulas.
- Encoraje os alunos a ensinar outros alunos. Alunos que ensinam seus semelhantes aprendem mais do que os alunos a quem eles ensinam. Além disso, eles desenvolvem um sentimento de satisfação e segurança em suas habilidades.
- Preocupe-se com o que você faz. Professores que ensinam no “automático” não farão um trabalho de destaque.
- Separe, se possível, ensino de avaliação. Se uma pessoa diferente do professor aplica a avaliação, o professor torna-se um tutor e aliado cujo objetivo é ajudar o aluno a aprender.

Como isso tudo se aplica a mim?

Se você, como professor, se preocupa com seu trabalho e deseja melhorar seu desempenho, isto em si já é algo grandioso. Neste texto há muitos conceitos que, além de nos auxiliar na compreensão de nossas escolhas e estilos de ensino, podem nos ajudar a ensinar melhor. Porém, se você discorda de alguns conceitos, ou acha outros impraticáveis, isto não desqualifica seu trabalho.

O que eu recomendo, e até o que faço, é escolher um conceito com o qual você se identifica mais e tentar incorpora-lo ao seu método, sempre de maneira positiva e acreditando que funcionará. Treine, se esforce e invista seu tempo em se aperfeiçoar neste novo conceito até que ele se incorpore às suas práticas. Depois disso, avalie os resultados e adapte-se à nova condição encontrada em sala de aula.

Mas o mais importante: se você for dar qualquer passo, dê-o com convicção. Os alunos percebem facilmente a insegurança do professor, e isso pode fazer com que, por melhor que seja, a técnica não funcione bem.

Bibliografia

Wankat, P.C. and Oreovicz, F.S. Teaching engineering. McGraw-Hill, 1993
Hanna, S. J. and McGill, L. T., A nurturing environment and effective teaching. Coll. Teach., 33(4), 177 (1985)
Lowman, J. Mastering the Techniques of Teaching, Jossey-Bass, San Francisco, 1985

Notas

* Ambos os autores são professores na Universidade de Purdue (West Lafayette – Indiana, EUA). Para ser mais preciso, o Prof. Phillip Wankat ainda é professor, enquanto que o Prof. Frank Oreovicz se aposentou recentemente. Neste livro, eles se preocuparam em reunir a experiência de muitos anos de ensino de engenharia, aliados a uma extensa pesquisa nos mais diversos campos da pedagogia relacionados ao ensino.