Figura obtida de: http://theunboundedspirit.com/the-effect-of-stressful-emotions-on-the-body-and-mind/ |
O stress é uma variável muito
importante no processo ensino-aprendizado. Professores que atuam sob altos
níveis de pressão tendem a ter um relacionamento interpessoal ruim com os
alunos, professores e até mesmo com sua família, tornando o stress uma entidade
que se realimenta. Por outro lado, alunos que sofrem altas cargas de stress
tendem a se concentrar menos nos períodos em que deveriam estar mais ativos, e
adquirem uma percepção distorcida sobre todos ao seu redor, sejam professores,
amigos ou familiares.
No entanto, deve-se ter em mente
que, enquanto o excesso de pressão é certamente prejudicial, um nível baixo e
controlado de stress pode ser benéfico, propiciando certa objetividade e
aumentando os níveis de produtividade, desde que esta situação não se estenda
por períodos muito longos.
Com a evolução das tecnologias,
estamos acostumados a sempre ter as respostas e informações que queremos,
prontamente em mãos, e esta tendência cria uma percepção de que tudo deve estar
pronto e funcionando imediatamente. Com isso, não é difícil perceber que muitas
pessoas parecem ter uma ansiedade muitas vezes descabida na espera por um
resultado, uma nota, um saldo, e outras coisas banais.
Porém, algo que nunca ninguém nos
ensina, é como lidar com o stress. É possível ter uma produtividade mais alta e
um humor melhor simultaneamente? É possível melhorar as notas na escola e o
relacionamento com os familiares e amigos? A resposta é SIM, e neste post
mostrarei algumas ideias que para mim funcionaram muito bem.
A palavra-chave é: Mudança
A palavra “stress” vem do Inglês
e possui vários significados, sendo eles: pressão, ênfase, tensão, deformação,
e, claro, a condição psicológica da qual estamos tratando. Muitas vezes, este
sentimento de pressão, tensão e desgaste que sentimos pode estar relacionado
com a saturação, ou seja, a exposição a determinadas situações até o ponto em
que atingimos um certo limite, a partir do qual a mente começa a reagir para
impedir estas situações, às vezes com intensidade alta.
Eu mesmo, em períodos de alto
estresse já desenvolvi várias dermatites, despigmentações localizadas na pele
(diferentes de vitiligo), crises de enxaqueca e ganho de peso. Já meu irmão,
quando estava na terceira série (hoje quarto ano) do ensino fundamental, teve
uma professora que lhe causou tamanho stress que ele desenvolveu um tipo de
epilepsia. Hoje, felizmente, ele está livre dos ataques.
Uma das estratégias que funcionam
para algumas pessoas é a mudança de ambiente. Para o caso de estudantes, a
mudança no local de trabalho ou estudo pode ajudar significativamente. Algo que
eu pessoalmente gostava de fazer era escolher um local onde eu tivesse uma
vista o mais distante possível. Assim, ao intercalar períodos de leitura (com o
foco próximo) e olhares ao horizonte (foco distante), eu evitava o cansaço dos
olhos, dores de cabeça, e dava um tempo para o meu cérebro processar algumas
informações.
No caso de professores, a mudança
do local do escritório (até mesmo para um home-office, se puder), ou a mudança
do local de aula, utilizando diferentes espaços fornecidos pela instituição que
não a sala de aula convencional, podem ser fundamentais no processo de tirar o
foco do causador de stress. Esta mudança pode ser muito bem acompanhada por uma
mudança no método de ensino, pois muitas vezes o novo ambiente pode possuir
recursos diferentes de uma sala tradicional. Ex: uma biblioteca pode não ter
uma lousa, mas pode possuir livros, sofás e um espaço multimídia.
Esta segunda mudança muitas vezes
é benéfica a alunos e professores, se usada mais como exceção do que como
regra. Dar um curso todo fora da sala de aula pode parecer uma ideia fresca e
inovadora. Porém, a falta de aulas no estilo “tradicional” pode dar aos alunos
uma impressão de que o curso não é sério, e em alguns casos pode gerar uma
ansiedade desnecessária. Isto vem acontecendo em muitos cursos universitários
em que as metodologias ativas estão sendo implementadas.
Mudanças de ritmo de trabalho
também são muito aconselháveis. A minha percepção como pesquisador é que as
boas ideias sempre surgem depois de um determinado tempo, não necessariamente
depois de uma determinada quantidade de pensamento. É claro que sem nenhum
pensamento, as ideias não virão. Porém, o que tem me ajudado muito neste
processo é dar algumas pausas em determinados assuntos (às vezes de alguns
dias). Ao retomá-los ou na iminência de retomá-los as boas ideias surgem, e o
desgaste se torna menor, talvez compensado pelo breve descanso e pelo interesse
na nova ideia. É o que os americanos normalmente chamam de “smell the roses”, que se refere a uma pausa para “cheirar as
rosas”.
Há outras três mudanças muito
interessantes que merecem destaque neste texto, que são a dessensibilização, a
terapia racional emotiva e são a mudança de percepção e serão comentadas a
seguir.
Treinar Para Dessensibilizar – Mudança Na Sensibilidade
A Dessensibilização Sistemática é
uma tendência muito utilizada na psicologia, usualmente no tratamento de
pessoas que passaram por situações extremas de stress e desenvolveram traumas.
As técnicas envolvem expor novamente a pessoa a situações similares, mas em um
ambiente controlado, para que ela possa acessar as memórias daquele evento e
desassociá-las lentamente do choque que foi causado.
No caso de professores, muitas
vezes, lecionar em salas de aula com muitos alunos pode soar como algo
extenuante. Porém, se o mesmo professor começar com uma sala de aula pequena, e
ao longo dos semestres for aumentando a quantidade de alunos gradativamente, em
algum tempo grandes salas não serão mais motivo de pressão para este professor.
Mas a situação mais comum é
sempre a dos alunos com excesso de ansiedade ou nervosismo em situações de
avaliação. Trabalharemos esta situação nas três abordagens de destaque neste
texto. Nestes casos, é altamente recomendado que as aulas tenham momentos do
tipo quiz (jogo de perguntas e respostas), valendo uma parcela significativa,
mas não tão grande da nota. Isto tende a fazer com que eles se acostumem a ser
avaliados com maior frequência, tornando esta situação gradativamente menos traumática.
Outras abordagens de avaliação
como a avaliação continuada em vez da avaliação concentrada em um dia e
horário, também trazem bons resultados em termos de aprendizado e
dessensibilização (experiência própria). Algo que dá mais trabalho ao professor
mas tende a tranquilizar o aluno é flexibilizar a data da avaliação. No meu
grupo de trabalho, foi proposto a uma turma que as avaliações poderiam ser
feitas em duas datas distintas, de forma que parte dos alunos escolheram realiza-la
na primeira data enquanto que outra parte resolveu realiza-la na segunda. Isto
exige que o professor elabore duas avaliações diferentes sobre o mesmo assunto,
mas com níveis de dificuldade equivalentes. Neste caso os alunos se sentiram
acolhidos e entenderam que o objetivo do professor era de fato ensinar, e não os
punir.
Mesmo assim, é bom ficar atento a
cada aluno individualmente, pois as pessoas podem responder diferentemente a
estímulos iguais. Neste caso, aconselha-se encaminhar o aluno a um psicólogo.
Terapia Racional Emotiva – Mudança no Padrão de Pensamento
A Terapia Racional Emotiva é uma
técnica da Abordagem Comportamental da Psicologia. Como eu não possuo formação
em Psicologia e este texto não é um texto formal sobre Psicologia, pode haver
pequenas imprecisões técnicas nos termos utilizados. Porém, a minha explicação
breve e leiga sobre esta terapia já traz alguns bons ganhos a esta discussão.
Em uma introdução muito breve,
esta teoria postula que muitas vezes temos pensamentos que são irracionais e
contribuem negativamente à nossa saúde, chamados tecnicamente de pensamentos
disfuncionais. Estes pensamentos normalmente nos fazem sentir mal. A solução
para isto, segundo a teoria, seria de atacar estes pensamentos irracionais com
pensamentos muito racionais e lógicos, até que o padrão de pensamento seja
alterado por completo.
No caso dos alunos que sentem
muita ansiedade em períodos de avaliação, são comuns os seguintes pensamentos: “a
prova vai estar muito difícil”, “o professor vai ‘ferrar’ todo mundo”, “eu
tenho certeza que vou muito mal”, “eu vou ‘ter um branco’ na hora”, “e se eu
não estudei justo a parte que vai cair? ”, “eu não vou conseguir”, “se eu for
mal meus pais vão ‘me matar’”, “se eu for mal vou perder a minha bolsa”, “eu
sempre erro alguma conta”, etc. A solução, segundo a teoria é atacar estes
pensamentos que causam ansiedade e mal estar com pensamentos do tipo: “eu sei a
matéria, porque estudei tudo o que foi recomendado”, “eu só vou esquecer as
coisas se ficar nervoso, então tenho que ficar calmo”, “eu fiz os exercícios e
tirei as dúvidas, então é só ficar bem atento para não errar”, “a avaliação é
como uma lista de exercícios, só que feita em sala de aula”, etc.
É claro que estes pensamentos
racionais devem ser embasados em fatos reais. Caso o aluno não tenha se
preparado, já é possível prever o resultado na avaliação independente do
nervosismo, ansiedade ou pensamentos racionais. Além disso, os pensamentos
racionais, neste caso, ajudam no autoconhecimento do aluno. Nem sempre é fácil,
para os alunos menos maduros, ter uma noção correta a respeito do nível de
compreensão da matéria. É frequente encontrar alunos que acreditavam que sabiam
a matéria por completo e obtiveram resultados desastrosos nas avaliações.
Nestas situações, o professor pode contribuir orientando o aluno a entender
melhor como saber se o conteúdo de fato foi absorvido ou não.
É extremamente desejável que o
aluno (e até mesmo o professor) saiba dizer com muita clareza se aprendeu um
determinado conteúdo ou não. Não podemos nos esquecer que o objetivo do aluno é
aprender (verbo na voz ativa). Se o próprio aluno consegue constatar que não
aprendeu satisfatoriamente um determinado conteúdo, então ele mesmo poderá
buscar mais conhecimento e compreensão, e em uma situação de honestidade ideal
de ambos os lados, a avaliação se tornaria um objeto desnecessário e talvez
obsoleto.
Voltando à terapia, de maneira
muito simples ela pode ser aprendida e autoaplicada por qualquer pessoa. Porém,
o acompanhamento de um Psicólogo é sempre aconselhado.
Mudança de Percepção
Em algumas situações muito
cotidianas, é fácil perceber que a irritabilidade é mais um hábito do que de
fato uma defesa do próprio corpo, como uma reação do tipo “luta ou fuga”. Um
exemplo muito prático é o trânsito. Quando o motorista mais próximo não faz
exatamente aquilo que desejamos que ele fizesse, é comum estufarmos o peito,
proferirmos alguns maus exemplos seguidos de buzinadas e gestos censuráveis, e
depois disso arrancarmos com o veículo em desabalada carreira por alguns
metros. Mas muitas vezes o que aconteceu foi um simples fruto de desatenção ou
falta de prática, que em suma não passou perto de colocar sua vida e
integridade física e patrimonial em risco. Então, por que ficamos tão nervosos?
É pelo simples hábito de reagir com esta intensidade a este tipo de reação.
Nestes dias me ocorreu um
pensamento do tipo: “se os refugiados da Síria preferem encarar uma viagem
mortal a ficarem em seus países, talvez eles nem se importassem em dirigir tão
lentamente ou levar algumas ‘fechadas’”. É claro que o exemplo é um pouco
absurdo, mas se vivêssemos em uma zona de guerra e a saída fosse dirigir por
algumas horas no trânsito, todos os dias, dirigiríamos muito felizes. Isto se
deve ao fato de que nestas situações hipotéticas, as pessoas possuem percepções
muito diferentes.
Neste ano letivo (que ainda não
acabou), passei por algumas situações que me levaram a um nível de stress que
meu corpo apresentou sinais de que não suportaria. Uma delas foi de um aluno
que questionou veementemente o meu método de ensino. A outra foi a revolta de
uma turma de 50 alunos, dos quais 45 haviam obtido um resultado péssimo na
primeira avaliação do semestre. Neste segundo caso, o fruto do resultado foi a
extrema falta de base dos alunos, e não o nível de dificuldade da prova (pelo
qual fui fortemente questionado).
Em ambas as situações, fiquei
extremamente mal e frustrado, porque tenho uma relação muito afetiva com meus
alunos e muito rigorosa com a qualidade do meu trabalho. Nas situações, tanto a
relação afetiva se comprometia quanto a qualidade do meu trabalho era
questionada. Em ambos os casos me senti muito mal, nervoso, depressivo, e tique
queda de imunidade, seguida de resfriados fortes, e algumas dermatites.
O que me levou a sair desta
situação traumática e nada saudável foi a simples mudança de percepção, que foi
disparada pelo contato com os meus princípios como professor. Este contato veio
de conversas com a minha esposa, com meus amigos e grupo de trabalho, e com a
leitura de alguns livros sobre educação. Uma das frases mais marcantes eu li no
livro Teaching Engineering, de Wankat e
Oreovicz: “Our position on human potential is that people want to learn. Therefore,
we search for ways to stop demotivating students while realizing that a few
discipline problems always exist.” Traduzindo: “A nossa posição
sobre o potencial humano é que as pessoas querem aprender. Portanto, procuramos
por maneiras de parar de desmotivar alunos enquanto mantemos em mente que
alguns poucos problemas disciplinares sempre existirão.”
Esta citação está em completo
acordo com os meus princípios como professor. Meu objetivo nunca foi o de punir
nenhum aluno, mas sim o de auxiliar e ensinar o máximo de conhecimento
possível. É evidente que alguns problemas de mau comportamento existirão, mas
se eu for compreensivo a ponto de não levar estes problemas para o campo
pessoal (a menos de algo muito sério), estarei muito mais apto a desenvolver
meu aluno como pessoa e profissional. Às vezes, manter uma postura firme é
necessário se o objetivo é bom, não punitivo, e tem que ser alcançado. Me
apeguei a isto em vez de me questionar sobre a qualidade do meu trabalho,
porque sei que fiz o melhor que eu poderia fazer.
O resultado, em ambos os casos,
foi que a turma realmente entendeu os objetivos, mudou a mentalidade,
comportou-se muito bem em todas as aulas, e trouxe alguns resultados marcantes.
O primeiro deles foi que alguns alunos, que normalmente têm um desempenho
mediano nas matérias, obtiveram resultados melhores até do que os alunos que
sistematicamente tiram as melhores notas. O segundo foi que, alguns alunos que
não conseguiram a aprovação, ou conseguiram, mas com desempenho marginal,
vieram se desculpar pela má performance e prometeram se esforçar mais nos
próximos semestres, o que mostra um nível de conscientização muito desejável.
O fato mais importante é que este
resultado foi em grande parte alcançado porque eu fui capaz de corrigir minha
percepção no meio do caminho, e dei a eles a direção certa a seguir (algo totalmente
fora do campo técnico). Portanto, além do benefício próprio, a turma toda pode
se beneficiar da minha mudança de percepção.
Outra situação muito importante
está relacionada com a minha trajetória como aluno. Depois que saí da
graduação, tive um daqueles “estalos”, e meus objetivos como aluno simplesmente
mudaram. Passei a me comprometer exclusivamente com o meu aprendizado, e não
com as minhas notas. Com isso, as notas se tornaram apenas uma devolutiva do
professor sobre como eu me desempenhava em cada matéria. O resultado foi que
das 12 matérias que cursei entre o mestrado e o doutorado, tirei A em 11 e B em
uma, por causa de meio ponto (de 0 a 10). Levando em conta que meu desempenho
nas matérias de graduação era em média de 75%, é evidente que esta mudança de
percepção como aluno elevou em muito o meu nível de aprendizado. Além disso, um
segundo benefício foi que eu ficava extremamente calmo, em todas as avaliações
pelas quais passei (incluindo defesas de dissertação e tese).
Considerações Finais
A carreira de professor e a
condição de aluno e estudante são de fato muito estressantes, se não as
tratarmos com muito cuidado. Com este texto, espero que você como leitor do meu
blog possa ter refletido sobre situações da sua vida e encontrado potenciais
mudanças que lhe trarão benefícios e bem-estar.
Muito obrigado pela leitura,
deixe seus comentários logo abaixo, ajude a divulgar meu blog e até a próxima!