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Olá, queridos professores, alunos
e interessados!
O ano de 2016, como se diz na
gíria, “chegou com tudo”! A introdução da reflexão que trago hoje é resultado
do que aconteceu comigo nos últimos dois meses, por isso contarei primeiro a
minha história, e depois seguimos ao tema principal.
Ao final de 2015, fiz uma reunião
com o meu coordenador, na faculdade (privada) em que dou aula, para pedir um
merecido aumento. Nesta reunião, meu superior me surpreendeu com uma oferta de
emprego que para mim foi irrecusável: tornar-me coordenador do mesmo curso
(Engenharia de Controle e Automação) em uma outra unidade da mesma faculdade.
Fiquei muito surpreso com a
oferta, afinal fazia pouco menos de um ano que eu era professor nesta
instituição, e além disso, eu tinha (e ainda tenho) 29 anos. Depois entendi
que, além de possuir graduação exatamente no mesmo curso, e de ter uma
avaliação positiva dos meus superiores, algo que contou muito para o convite
foi o fato de eu ser um dos poucos professores na instituição com título de
doutor. Por isso, professores, invistam em um doutorado!
Depois do choque, comecei a me
animar com a atividade de coordenação. Afinal de contas, estando um “degrau
corporativo” acima, eu poderia propor certas mudanças que muito me afligiam
como professor! Hoje, 26 dias depois de assumir o cargo, ainda estou me
adaptando a muitas situações e demandas, e percebi que, de fato, será possível
propor algumas ações que melhorarão a vida de alunos e professores.
Na instituição em que agora
coordeno um curso, a média para aprovação em todas as matérias é de 6,0 pontos.
Um dia desses, um aluno veio a mim para pedir uma revisão de nota, pois o
professor o havia reprovado com 5,5. “Poxa, só por causa de meio ponto? É muito
pouco, será que não dá pra rever?” – ele dizia.
Apesar de ser também uma diretriz
da faculdade, o meu princípio diz que o professor é quem tem a autoridade sobre
estes casos. Seu julgamento sobre o desempenho de cada aluno, ao meu ver, é
soberano. Enquanto o aluno fazia seu apelo, do outro lado da mesa, eu acabei
tendo um insight, que agora sim chega ao tema desta reflexão: será que uma nota
numérica, ou mesmo por conceito (A, B, C, etc.) é o melhor instrumento de
avaliação do aluno?
Fiquei pensando no caso do
professor, fechando as notas desta matéria. Como é de praxe, nós professores
sabemos que notas são instrumentos de avaliação subjetivos, e por isso sujeitos
a erros difíceis de medir. Por isso, quando um aluno tem uma nota menor, mas
muito próxima da média, é comum que reavaliemos os casos específicos e
ajustemos a nota caso necessário. O professor, com toda a certeza, viu o caso
do aluno e julgou que ele não estava apto a ser aprovado.
A diferença entre ser aprovado ou
não, no caso deste aluno, não é “meio ponto”. A reprovação foi o resultado de
um julgamento do professor sobre todas as ações daquele aluno naquele semestre.
Ou seja, o aluno queria um “sim”, mas ganhou um “não”, o que são conceitos
muito opostos, diferente da pequenez do “meio ponto” ao qual o aluno se
referiu.
Contudo, a nota numérica traz uma
ideia de “quantificação do saber”. Aparentemente, a percepção do aluno (como eu
repito que um dia foi a minha) é que o esforço que ele fez no último semestre
lhe rendeu 5,5 pontos. Com um pouquinho mais de esforço ele conseguiria 6,0 pontos
e seria aprovado, ou seja, ele quase sabe tudo o que se deve saber sobre aquele
assunto para ser aprovado.
Além disso, se o aluno for
estatisticamente consciente, ele pode perguntar ao professor sobre qual o
tamanho do erro que ele admite, ou ao menos estima, em sua avaliação. E aí,
qualquer resposta que se pense estaria muito longe da correta, pois
precisaríamos de milhões de alunos fazendo exatamente a mesma prova, e sendo
avaliados exatamente segundo o mesmo critério para ter uma ideia. Isto com relação
a cada avaliação.
É por isso que o julgamento do
professor, no momento da decisão pela aprovação ou não aprovação do aluno, é um
parâmetro muito mais razoável do que um conceito numérico. Mesmo com toda esta
argumentação, não prego pelo abandono da nota numérica. Ela é uma métrica,
ajustada por cada professor, para que se possa observar com certa clareza quais
os alunos que deveriam ser, com toda a certeza, aprovados ou reprovados, e
quais alunos precisam de uma maior atenção do professor para a aprovação. Em
outras palavras, com a nota numérica é possível separar os alunos em três
grupos: os aprovados, os reprovados e os alunos a julgar.
Porém, esta métrica é algo muito
mais útil ao professor do que ao aluno. O fato é que, para um professor
específico, fazer esta distinção utilizando um instrumento de avaliação e uma
métrica é razoável. Contudo, uma questão importante é a subjetividade da nota
mínima para aprovação, ou “nota de corte”. Já vi instituições que trabalham com
nota de corte 5, 6 e 7. Contudo, a diferença numérica entre estas notas não
significa muito.
Da mesma forma que o julgamento
de cada aluno é uma questão subjetiva do professor, o julgamento da quantidade
de conteúdo que equivale à nota de corte também o é. Levando em conta que
sabemos que o conhecimento não é quantificável, se dois professores lecionarem
a mesma matéria, o 5,0 de um pode equivaler a menos conhecimento do que o 5,0
do outro. Então, os alunos diretamente classificarão o primeiro professor como
mais “fácil” e o segundo como mais “exigente”. Normalmente o segundo é
agraciado com adjetivos de baixo calão.
Em algumas instituições, a nota
(ou a média das notas) de cada aluno é utilizada para classifica-los e para
ceder alguns benefícios a alguns e não a outros. Estes benefícios vão desde
prêmios por desempenho até prioridade na matrícula em um determinado horário do
curso.
Eu passei por isso durante a
minha graduação na Unicamp. Sempre morei em Jundiaí, e ia de ônibus fretado
para a faculdade. Como meu curso era noturno, conseguir a matrícula nas
matérias oferecidas à noite acarretaria em menores custos para os meus estudos.
A minha turma tinha 50 alunos, mas algumas matérias eram ministradas em
laboratório, de forma que as turmas noturnas tinham apenas 15 vagas. Resultado:
eu tinha que estudar bastante para estar sempre entre os 15 “melhores”, ou
entre os 15 com as maiores médias, para conseguir minha matrícula.
No fundo, eu nunca tive problemas
e sempre consegui minha vaga à noite. Porém, eu tinha sempre duas alternativas:
ou me matriculava com o professor mais “fácil”, e como consequência aprendia
“menos”, ou me matriculava com o mais exigente, e me comprometia a estudar
mais. Como todo o bom “nerd”, sempre escolhi a segunda opção, mas passei por
“poucas e boas” para conseguir os números desejados como nota.
Só depois de muito tempo, percebi
que aqueles números que tanto busquei eram sim uma métrica, com todas as falhas
que uma métrica pode ter, e que eles não eram capazes de quantificar o meu
saber, e muito menos a minha capacidade como estudante e pesquisador. Creio que
a única maneira de eu ter uma noção da grandeza das minhas capacidades, como
ser humano, é fazendo uma autoavaliação, sempre muito crítica e honesta. Como
engenheiro, eu digo que se nem uma grandeza vetorial não é capaz de me
descrever, imagine uma grandeza escalar!
Mas esta não é a mensagem que
estamos passando aos nossos alunos. Atribuímos a ele, ou a seus fazeres uma
nota, e esta nota deve classifica-lo, portanto é capaz de quantifica-lo naquela
que é a única atividade pela qual parecemos nos importar: a habilidade de
responder corretamente uma quantidade massiva de questões.
Creio que valha muito a pena
trabalharmos na conscientização do aluno, sobretudo no que diz respeito à
autoavaliação das capacidades e do conhecimento adquirido. Queremos que o nosso
aluno saiba dizer se aprendeu ou não aprendeu um determinado conteúdo muito
antes de ser avaliado. Somente esta percepção será capaz de alimentar o seu bom
senso e a sua procura pelos conhecimentos que de fato lhe faltam, evitando
assim horas de estudo que não o levarão ao desenvolvimento concreto de seu
conhecimento.
São perguntas básicas, que não
ensinamos nossos alunos a se perguntarem, muito menos a responderem
honestamente. “O que eu ainda não sei?”. “Por que eu não estou entendendo?”. “O
que o professor espera que eu saiba?”. “O que eu preciso saber para compreender
e dominar este assunto?”. “Qual conhecimento específico me falta para que eu
consiga aprender este conteúdo?”. O aluno que aprende a se perguntar e a
responder honestamente a estas questões, é automaticamente capaz de aprender
com qualidade qualquer assunto. Não é isso o que queremos?
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